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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Maxi - 1ª Série - Egito Antigo

Tema freqüente dos meios de comunicação, o Egito é um país geralmente associado a descobertas arqueológicas da era anterior a Cristo. No imaginário do mundo atual, é o país das pirâmides, das múmias, da sedutora rainha Cleópatra e do caudaloso rio Nilo.

De fato, a civilização que se desenvolveu no Egito, numa antiguidade muito remota, é surpreendente no que se refere principalmente a seus aspectos culturais, incluindo-se aí a escrita (os chamados hieróglifos), a pintura, a escultura, a arquitetura, a mitologia, etc.

Porém, para se compreender o desenvolvimento cultural do antigo Egito, é preciso conhecer também as condições sociais e econômicas em que ele ocorreu. Do mesmo modo, é necessário considerar também uma questão geográfica, pois, como disse Heródoto, o historiador grego, "o Egito é uma dádiva do Nilo".


Às margens do Rio Nilo
Atualmente, o Egito tem 70 milhões de habitantes e é o mais populoso dos países árabes. Porém, exatamente como na Antiguidade, a maioria de sua população está concentrada em apenas 4% do território, às margens do Rio Nilo.


Por se localizar numa região cercada por desertos - o nordeste da África -, o Egito sempre teve a sua vida ligada às águas deste rio e às suas cheias, que fertilizam o solo, tornando possível o desenvolvimento de uma agricultura capaz de sustentar grandes contingentes populacionais.


Nos últimos séculos do 4º milênio a.C., com a acentuada queda dos índices pluviométricos na região, as populações nômades e semi-nômades que viviam nos oásis dos desertos do nordeste da África foram atraídas para as margens do rio Nilo. A ocupação da região ocorreu com levas sucessivas de tribos vindas das regiões da Líbia - a oeste -, da Palestina - a leste - e da Núbia (atual Sudão) - ao sul -, que acabaram formando a população egípcia.

civilização egípcia desenvolveu-se às margens do rio Nilo numa largura de 10 a 20 quilômetros e numa extensão de 1.000 quilômetros. Era extremamente dependente do rio, tanto para a manutenção das atividades agrícolas e a pecuária, como para o transporte de mercadorias e comunicação entre as diversas aldeias, sempre localizadas às margens do Nilo.

Diques e reservatórios no Rio Nilo
O controle das cheias do rio foi condição essencial para o desenvolvimento da civilização na região, pois o seu leito não era suficiente para conter as águas que inundavam a região. Foram construídos diques e reservatórios às margens do Nilo que retinham as águas que seriam utilizadas no momento da escassez das chuvas para a agricultura e a pecuária - conduzidas através de canais de irrigação -, ou para consumo humano. Com o retorno das águas ao leito do rio, ficava armazenado nas margens um precioso fertilizante, o húmus, que permitiu o surgimento de uma agricultura de alta produtividade.

Segundo os historiadores G. Moktar e J. Vercoutter, a "experiência logo ensinou os egípcios a desconfiar da inconstância do rio. Para compensar a escassez periódica, era necessário estocar cereais para alimentar a população e - mais importante ainda com vistas ao futuro - garantir quantidade suficiente de sementes para a semeadura seguinte, quaisquer que fossem as circunstâncias.

"Esses estoques de reserva eram fornecidos pelo governo central, graças ao duplo celeiro real, que estocava cereais em armazéns distribuídos por todo o país. Limitando o consumo em períodos de abundância e estocando o máximo possível para se precaver contra cheias insuficientes ou excessivas, o governo central passou a controlar, por assim dizer, a ordem natural e veio a desempenhar um papel muito importante."

Excedente econômico
A produtividade alta permitiu a acumulação de um excedente econômico, que viabilizou a construção das pirâmides, dos palácios, o desenvolvimento do artesanato, da ourivesaria e as guerras de expansão.

A produção agrícola era diversificada: trigo, cevada, ervilha, cebola, linho, tâmaras, diversas árvores frutíferas, além da pecuária (bois, ovelhas, porcos, cabras). Os egípcios desenvolveram também a caça e a pesca: a primeira realizada nos pântanos e no deserto e a segunda praticada no Nilo, nos reservatórios e canais de irrigação.

Artesanato e cultura
O artesanato era muito importante. Utilizaram o linho e o couro de animais, confeccionaram cerâmicas e durante largo tempo não houve separação entre agricultores e artesãos: como o ciclo agrícola era de seis meses (plantio e colheita), o restante do tempo era aproveitado nas atividades artesanais e na conservação dos canais de irrigação e dos reservatórios.

O papiro era abundante às margens do Nilo. As fibras da planta foram usadas para fazer embarcações, redes e cordas, mas acabou tendo enorme importância quando utilizado como matéria-prima para fazer papel. De acordo com o historiador J. Yoyotte, o "cultivo intensivo do papiro provavelmente contribuiu para o desaparecimento dos pântanos, refúgio dos pássaros, crocodilos e hipopótamos, que, na opinião dos própios antigos, davam brilho à paisagem egípcia".

Obras faraônicas
A transcrição nos papiros de fatos da história, do dia-a-dia do governo e das questões religiosas pelos escribas - funcionários governamentais dedicados à tarefa de registro em hieróglifos, sinais pictográficos simbolizando objetos - acabou transformando-se em importante fonte histórica para a reconstrução da civilização egípcia.

As grandes obras públicas, outra das principais características do Egito faraônico, como as pirâmides, palácios e canais de irrigação, só foram possíveis graças ao pagamento de tributos das comunidades - através do imposto em trabalho dos camponeses livres e em mercadorias - e da utilização dos escravos, prisioneiros de guerra -, em minas e pedreiras.


Grande parte da atividade econômica era controlada pelo Estado, que recebia parcela considerável do excedente econômico produzido pelas aldeias como tributo, e utilizava parte deles para alimentar os trabalhadores nas obras públicas e outra parcela era colocada no mercado.

Pirâmide social do Egito Antigo
Nos quase 2.500 anos do Egito dos faraós, a estrutura social pouco se alterou. Na base estavam os escravos, quase todos de origem estrangeira e em número reduzido, mas principalmente os camponeses livres, a maioria da população, que viviam nas aldeias e tinham de pagar diversos tributos ao Estado e aos templos.


Havia uma camada intermediária representada pelos artesãos urbanos, funcionários e escribas. A classe dominante era formada pelo faraó - adorado como um deus e exercendo também o poder militar, civil e judiciário - e sua família, pelos sacerdotes, militares e altos funcionários do Estado.

De acordo com o filósofo e historiador das religiões Mircea Eliade, para os egípcios a ordem social representa um aspecto da ordem cósmica. Assim, a realeza existiria desde o começo do mundo, pois o "Criador foi o primeiro Rei; ele transmitiu este função ao filho e sucessor, o primeiro Faraó. Essa delegação consagrou a realeza como instituição divina".

O papel da religião
A vida dos egípcios estava marcada pela religião e seus deuses. Osíris ensinou a agricultura aos seres humanos mas acabou traído e morto pelo irmão e rival Seth. Isis, sua mulher, convenceu os outros deuses a trazer de volta Osíris para a Terra: era ele que julgava após a morte os egípcios. Ouvia a defesa de cada um e, depois de pesar o coração do indivíduo - para saber se estava mentindo ou não - decidia pela inocência ou culpabilidade.

A crença em uma vida após a morte acompanhava o egípcio durante toda a sua existência. Desta forma, a construção de grandes túmulos, onde estavam acumulado tesouros e objetos de uso pessoal do morto, servia para que depois da vida ele mantivesse a mesma condição material.

Segundo o egiptólogo A. Abu Bakr, a "crença no além foi sem dúvida favorecida e influenciada pelas condições geográficas do Egito, onde a aridez do solo e o clima quente asseguravam uma notável conservação dos corpos após a morte, o que deve ter estimulado fortemente a convicção de que a vida continuava no além-túmulo".

O politeísmo da religião egípcia foi brevemente interrompido pela instituição do monoteísmo pelo faraó Amenófis IV (1380-1362 a.C.) com o culto ao deus Aton. Além de razões religiosas, o faraó também pretendia diminuir os poderes do clero, enriquecido pelo pagamento de tributos, e que exercia enorme influência política. Amenófis fundou uma nova capital, perseguiu os sacerdotes inimigos da reforma mas não conseguiu obter apoio popular. Após a sua morte foi restabelecido o politeísmo e a capital retornou para Tebas.

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