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terça-feira, 27 de maio de 2014

Muro de Berlim ainda separa o futebol na Alemanha

*Por André Donke, Guilherme Nagamine e Jean Pereira Santos, do ESPN.com.br 

Era 17 de novembro de 2010. O empate sem gols com a Suécia, em Gotemburgo, pode ter servido apenas para o técnico Joachim Low testar novos nomes na seleção alemã visando a Eurocopa de 2012 e a Copa do Mundo de 2014. Porém, um significado histórico também estava por trás deste jogo. 

Precisamente aos 32 minutos do segundo tempo, o quarto árbitro levantou a placa não apenas para anunciar duas substituições. Na verdade, ele indicaria um momento único para o povo alemão: a entrada de Mario Gotze e André Schurrle no gramado, os primeiros jogadores a defender os tricampeões mundiais nascidos após a reunificação do país, em 1989. 
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O fato ocorreu poucos dias após o aniversário de 21 anos da queda do Muro de Berlim e um mês depois da data que marcou 20 anos desde que Alemanha Oriental e Ocidental deixaram de existir para voltarem a ser uma só nação. Desde 3 de outubro de 1990, quando oficialmente a Alemanha voltou a ser apenas um país, muitas coisas mudaram. No entanto, o futebol foi uma das áreas que mais ficou estagnada. 
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Enquanto as empresas se espalharam pelo leste germânico logo que o muro caiu e as diferenças políticas praticamente deixaram de existir, no esporte mais popular do planeta, a parte oriental seguiu frágil. 
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Na seleção, dos 30 jogadores pré-convocados para o Mundial no Brasil, 26 nasceram na região ocidental. Apenas dois atletas - Marcel Schmelzer e Toni Kroos - que integram a relação são naturais do que foi a Alemanha comunista, o mesmo número em relação aos que nasceram na Polônia. Além disso, dessa lista, 28 jogadores foram revelados para o futebol profissional por clubes da Alemanha Ocidental e os outros dois na Inglaterra. 

"Para os países comunistas, o foco esportivo sempre foram as Olimpíadas, onde eles encontravam a manifestação do poder. Houve uma transferência de recursos da Ocidental para a Oriental como processo de integração. Só que os clubes não tiveram o mesmo acesso aos recursos financeiros", explicou em entrevista ao ESPN.com.br o professor do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) Marcus Vinícius de Freitas. 
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E é isso o que mostram os resultados. Nos cinco Jogos Olímpicos que disputou (1968, 1972, 1976, 1980 e 1988), a Alemanha Oriental terminou em três oportunidades no segundo lugar, uma em terceiro e outra em quinto, sendo que, em todas, ficou à frente da Alemanha Ocidental. 
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Se nos gramados o muro ainda existe, em outros campos, ele vai sendo destruído tijolo a tijolo. Na política, por exemplo, Angela Merkel, que nasceu em Hamburgo, mas cresceu em Templin, na Alemanha Oriental, ocupa o cargo mais alto - chanceler - desde 2005, o que mostra um relacionamento muito mais aberto e equilibrado entre as duas partes. 
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Além disso, o relatório sobre o estado da unidade alemã, que é divulgado uma vez por ano, apontou que em 2013 se registrou a melhor situação econômica do leste desde a reunificação. Apesar da melhora, ainda falta muito. A taxa de desemprego na região é o dobro em relação à ocidental, e os salários, em média, se equivalem a 80% aos da outra parte do país. 

"O processo de reconstrução da Oriental começou em 1990, enquanto na Ocidental começou em 1949. Mas a rapidez com que foi feita a reforma política da Oriental é muito mais rápida do que aconteceu na Ocidental entre 1949 e 1990", disse em entrevista ao ESPN.com.br o professor titular de História e membro do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Estevão Chaves de Rezende Martins. 

MURO DE BERLIM E A SEPARAÇÃO DA ALEMANHA 
O fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e o início da Guerra Fria na sequência tiveram reflexos diretos na na Alemanha. Derrotado no primeiro conflito, o país viu o fim do governo nazista e teve sua capital dividida pelos vencedores. Berlim se repartiu em quatro parcelas: uma para russos, uma para franceses, uma para norte-americanos e uma para alemães. 

Nos anos seguintes, a instabilidade entre capitalismo (encabeçado por Estados Unidos) e socialismo (liderado pela URSS) se agravou, e o conflito ficava cada vez mais evidente com medidas como o Plano Marshall - que ajudava países capitalistas que sofreram com a guerra - e o bloqueio soviético a Berlim Ocidental. 

Centro da Guerra Fria, Berlim viu o ápice deste confronto ideológico em 13 de agosto de 1961 quando amanheceu com um muro sendo esboçado. Aquela parede com 37 quilômetros se estabeleceu em meses e separou a capital germânica por 29 anos. 


Somente com a queda do bloco socialista e o fim da Guerra Fria encaminhado é que o muro seria derrubado, em 9 de novembro de 1989, acabando com a separação forçada da Alemanha. A unificação, oficialmente, ocorreria em 3 de outubro de 1990.

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